10 de novembro é comemorado o Dia do Trigo no Brasil, considerado alimento fundamental para a humanidade. O cereal conta com um capítulo especial no livro “Brasil em 50 alimentos”, recém lançado pela Embrapa.
O trigo surgiu, há cerca de 10 mil anos, por meio de cruzamento natural entre gramíneas selvagens, na região chamada de Crescente Fértil, oeste da Ásia, que abarca os territórios de países como Síria, Líbano, Turquia, Iraque e Irã.
O consumo desse alimento, originalmente, era diferente do atual: do grão torrado no fogo e semelhante a pipoca ou triturado grosseiramente e cozido, passou, também, a ser consumido na forma de uma massa fina e achatada assada sobre pedras quentes (precursor do pão e do biscoito modernos). Posteriormente, com a descoberta da fermentação biológica (atribuída ao acaso), associada ao desenvolvimento de técnicas de moagem mais aprimoradas, os pães primitivos passaram a ter melhor palatabilidade.
A composição química e estrutura do grão de trigo, com predominância de carboidratos (74%) e proteínas (14%) e a possibilidade de separação em três componentes principais – endosperma (83%), farelo (14%) e gérmen (3%), configuram esse cereal como matéria-prima de alta versatilidade. Pode ser usado em formulações domésticas e industriais, tanto para alimentação humana quanto animal, na área farmacêutica, como colas no setor de mobiliário, entre outros.
No Brasil, o trigo foi introduzido pelos portugueses, no século XVI, no centro do País, destacando-se, na sequência, no Sul, a experiência dos açorianos (por volta de 1750) e, posteriormente, com as imigrações alemã (1824) e italiana (1875).
Até 1980, a produção de trigo no Brasil, estava, exclusivamente, concentrada na Região Sul. Desde então, apesar de ainda majoritário no Sul, o cultivo avançou para os estados do Brasil Central, bioma Cerrado, Região Centro-Oeste, consolidando uma triticultura genuinamente tropical. Um novo olhar, atualmente, tem sido voltado aos estados das regiões Norte e Nordeste.
Expansão
Nos últimos 50 anos a área cultivada com trigo no Brasil quase duplicou: de 1,6 milhão de hectares, em 1973, para 3,1 milhões, em 2022. Ressalte-se que, a produção neste mesmo período, foi quintuplicada, passando de 1,9 para 9,6 milhões de toneladas anuais (suprindo 70% da demanda nacional). Da mesma forma, a produtividade das lavouras atingiu o patamar de 3,1 toneladas por hectare, que correspondente a 2,7 vezes à obtida em 1973. O Brasil, atualmente, faz parte do grupo dos países importadores e exportadores de trigo.
A expansão territorial da área de cultivo também foi expressiva. Em 1973 cinco estados brasileiros apresentaram registro de plantio de trigo (Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo). Atualmente, este número subiu para nove estados (Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo), além do Distrito Federal.
O aumento da produtividade e da área cultivada com trigo é resultado direto da pesquisa agropecuária. Destacando-se a criação de novas cultivares mais bem adaptadas às condições climáticas nacionais; o desenvolvimento de métodos mais eficientes de controle de pragas e doenças; o aprimoramento do sistema de rotação de culturas com técnicas que propiciaram melhorias na qualidade do solo; a interação com os diferentes elos do complexo agroindustrial do trigo por meio de parcerias que visam a assegurar sustentabilidade econômica, social e ambiental, desde o campo até a mesa do consumidor.
Referência mundial
O sucesso da triticultura brasileira, consolidando o trigo tropical como uma nova fronteira agrícola, pode ser atribuído ao trabalho de equipes multidisciplinares de pesquisadores lotados em cerca de 40 instituições de pesquisa públicas e privadas nacionais. Hoje, o Brasil é referência mundial em triticultura tropical.
Para estimular o cultivo e o uso do trigo nacional, o governo estabeleceu, na década de 1960, medidas protecionistas, como o Decreto-Lei nº 210, de 27 de fevereiro de 1967, que proibia a comercialização de trigo nacional e importado pelo setor privado, e, o Estado, por esse decreto, assumiu a compra e a venda desse cereal.
A internacionalização da economia, no início dos anos 1990, impôs um novo desafio para a triticultura brasileira – a qualidade tecnológica do trigo – e, com ela, a determinação do fim da intervenção estatal no complexo agroindustrial do trigo no Brasil. Esta medida trouxe uma série de ameaças e oportunidades para a pesquisa brasileira, como a necessidade de estabelecer padrões de classificação comercial do trigo, a caracterização da qualidade do trigo produzido no Brasil e a inclusão da qualidade do trigo como um dos critérios para o melhoramento genético das cultivares comerciais.
Em 1973, não era conhecida a qualidade tecnológica do trigo brasileiro. Cinquenta anos depois, todas as cultivares registradas apresentam descrição de diversas características de qualidade, objetivando atender a demanda de informações dos diferentes mercados que utilizam o trigo como matéria prima, seja para a alimentação humana, ração para animais ou outros usos industriais. Desta forma, depois de superada a barreira da produtividade, a pesquisa brasileira voltou seus esforços para melhorar a qualidade e a liquidez do trigo nacional. Hoje estão disponíveis cultivares para os diferentes usos: panificação industrial e caseira, fabricação de massas, biscoitos, bolos, pizzas, confeitaria, indústria de proteína animal e biocombustíveis, entre outros.
Novas fronteiras
Há desafios ainda a serem vencidos. Especificamente, para maior expansão do trigo na região tropical, consolidando novas fronteiras agrícolas no Norte e Nordeste, a superação da doença conhecida por brusone e dos problemas causados por seca e calor. E na região tradicional de trigo, o Sul do País, contornar os problemas causados pela doença giberela e pelo excesso de chuva na colheita, que pode ocasionar o início da germinação dos grãos ainda na espiga (antes da colheita).
Fonte: Embrapa Trigo
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