(A partir da esquerda) Embaixador da França, Emmanuel Lenain, Cacique Raoni, diretora Ana Euler, coordenador do Parlaíndio, Cacique Almir Suruí, e o chefe-geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza
Numa iniciativa inédita, a partir de agora representações indígenas de todo o País terão acesso a um curso de capacitação especial voltado à restauração florestal em territórios de povos originários. A meta inicial é plantar 1 milhão de árvores por ano. A capacitação lançada pela plataforma e-Campo de Educação a Distância, coordenada pela Embrapa Florestas, especialmente para o projeto Semeando Florestas em Terras Indígenas, vai contribuir para que o objetivo seja alcançado.
O lançamento ocorreu na manhã do dia 24 de janeiro, na sede da Embrapa, em Brasília, com a presença de representações de povos originários, Ibama, Funai e do presidente de Honra do Parlamento Indígena do Brasil (Parlaíndio), cacique caiapó Raoni Metuktire, 92 anos, reconhecido internacionalmente pela luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas. “Temos que nos unir pela preservação. As florestas precisam ser preservadas e replantadas, caso contrário, se o desmatamento continuar, os próximos anos serão de muito fogo nessas regiões”, disse.
Raoni falou sobre a necessidade de apoio e financiamento em benefício de projetos que atendam aldeias e terras indígenas e chamou a atenção para a importância do respeito e da união como forma de proteger os povos, principalmente contra atividades como o garimpo. O cacique esteve acompanhado do neto Patxon Metuktire, primeiro a fazer a inscrição no curso da plataforma e-Campo.
O curso EaD “Semeando Florestas em Terras Indígenas” faz parte do projeto com o mesmo nome, iniciativa do Parlamento Indígena (Parlaíndio) e da Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí, com a parceria técnica da Embrapa Florestas e o apoio da Embaixada da França no Brasil. São ao todo 25 videoaulas e apostilas com práticas de manejo florestal, divididas em módulos de conhecimento (Coleta, beneficiamento, germinação e armazenamento de sementes; Instalação de viveiros de pequeno porte; Produção de mudas de espécies florestais). Em 2024, mais dois módulos serão lançados sobre semeadura e plantio de mudas.
Para o embaixador francês, Emmanuel Lenain, representante do País, responsável pelo financiamento da capacitação, a importância do trabalho da Embrapa e o alcance da iniciativa, no contexto da defesa da sabedoria e do direito dos povos tradicionais, trarão impactos positivos à preservação. “Há muito tempo a França é defensora dos direitos dos povos tradicionais e dos direitos humanos”, afirmou. “Temos muito respeito ao cacique Raioni e sua trajetória de vida, por isso este momento é ainda mais significativo pelo reconhecimento dessa iniciativa com a Embrapa”. O embaixador destacou a sua ida ao Parque do Xingu, na última semana de janeiro, e anunciou a visita do presidente francês Emmanuel Macron ao Brasil, dias 26, 27 e 28 de março.
A presidente da Embrapa, Sílvia Massruhá, também reforçou a necessidade e a urgência de ações junto às comunidades indígenas e garantiu a participação da Empresa em projetos de conservação. “Esta é a semente de novas iniciativas de caráter estruturante que contribuam com os povos originários”, disse, referindo-se à atuação de 15 unidades de pesquisa em cerca de 50 etnias, com foco na troca de saberes, em projetos de médio e longo prazos. “A tecnologia contribui com a disseminação e o compartilhamento do conhecimento”, completou.
Desafio
Segundo o coordenador-executivo do Parlaíndio e presidente da Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí, Cacique Almir Suruí, a proposta de desenvolver o projeto representa a concretização uma ideologia democrática, pelo bem comum. “O Brasil está entre os líderes de políticas sustentáveis no mundo, principalmente diante do atual cenário de mudanças climáticas, de combate às desigualdades e de fortalecimento de parcerias”, disse, ao defender a continuidade das ações. “É preciso lutar contra a desvalorização das culturas e protagonizar a solução dos desafios dos povos”.
De acordo com o chefe-geral da Embrapa Florestas, Erich Schaitza, a proposta do projeto do Parlaíndio é um desafio. “A unidade aceitou e está empenhada na construção da iniciativa, que envolve um segmento muito significativo”, comentou. “O potencial dos recursos da educação a distância é muito grande e pode ultrapassar as comunidades indígenas, beneficiando outras que também estejam embuídas em semear florestas”.
Sobre a trajetória da pesquisa desenvolvida na Embrapa junto a comunidades indígenas, a diretora de Negócios Ana Euler reforçou a importância da ligação entre ciência e povos originários. “Um dos exemplos foi o trabalho de reintrodução de sementes tradicionais do povo Krahô, do Tocantins, coordenado pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, com o objetivo de preservar os sistemas de cultivo e necessidades alimentares da cultura, graças aos recursos preservados no banco de germoplasma de variedades crioulas de milho”, comentou. “A Embrapa quer fazer mais”, afirmou, ao lembrar a participação da Empresa em negociações em andamento no Ministério dos Povos Indígenas.
Sobre o curso
A partir do lançamento, o curso estará disponível gratuitamente para todas as comunidades indígenas e demais públicos interessados em reflorestar suas áreas degradadas, por meio do site da Embrapa (www.embrapa.br/e-campo) que poderá ser feito pelo computador, notebook ou celular. Ao final do curso, os participantes que acessarem e concluírem o curso pelo site da Embrapa receberão um certificado de capacitação. Para as aldeias com dificuldade de acesso à Internet, mas com acesso a computador, serão disponibilizados pen drives com o conteúdo do curso.
O curso integra um conjunto de ações da Embrapa em apoio aos povos indígenas que visam contribuir para a segurança alimentar e nutricional, a geração de renda e o manejo e o uso sustentável da biodiversidade por essas populações.
Para a segunda etapa do projeto “Semeando Florestas em Terras Indígenas”, está prevista a mobilização de aldeias na Amazônia e demais biomas brasileiros, para criarem brigadas florestais indígenas, a fim de empreender a restauração florestal em seus territórios. Para apoiar e direcionar esse esforço coletivo, foi elaborado um “Plano Mestre de Restauração Florestal de Terras Indígenas” que será colocado à disposição das lideranças e associações dos povos indígenas interessados.
Sobre o Parlaíndio Brasil
O Parlamento Indígena do Brasil foi concebido em outubro de 2017 numa reunião de lideranças tradicionais indígenas e lançado oficialmente numa assembleia virtual em maio de 2021 com a missão de ser um espaço de voz e de articulação política para que os anciãos, pajés e caciques mais antigos, detentores dos saberes tradicionais, da tradição cultural e da espiritualidade ancestral, possam participar das assembleias do Parlaíndio Brasil presencialmente ou diretamente de suas aldeias em reuniões virtuais via internet. Assim eles podem assumir seu protagonismo e participar ativamente da discussão nacional das questões indígenas, conquistar visibilidade política e denunciar, à sociedade brasileira e ao mundo, as graves ameaças aos seus povos e ao meio ambiente, bem como propor alternativas e soluções sustentáveis de forma colegiada e democrática.
O Parlamento Indígena do Brasil vem para somar com o movimento indígena nacional com vistas a ampliar a representatividade dos mais de 1,6 milhões de indígenas que vivem no território nacional, distribuídos em 305 povos distintos, que falam mais de 180 línguas nativas. O Parlaíndio Brasil conta desde sua criação com a colaboração voluntária do indigenista Toni Lotar e tem os apoios do Instituto Raoni, da Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí, da Fundação Darcy Ribeiro e da Embaixada da França no Brasil.
Fonte; Embrapa Florestas
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