‘Agroecologia 2023’ reúne cinco eventos paralelos e mostra tecnologias para conservar solo e água

Temas de conservação do solo e da água foram o foco desta edição, que superou expectativas pelas novidades apresentadas nos eventos paralelos voltados ao bem viver da Agroecologia.

O “Agroecologia 2023” foi realizado no dia 7 de dezembro, na Estação Experimental Cascata, com uma proposta inovadora ao realizar cinco eventos paralelos: o XVIII Dia de Campo da Agroecologia, a I Ciranda Agroecológica, a Mostra Cultural: Músicas e Artes, a II Feira da Agroecologia e a reunião das Organizações de Controle Social (OCS), superando a participação e acolhida do público em 1.200 pessoas.

Entre as inúmeras atividades, a I Ciranda Agroecológica trouxe um diferencial para a programação com mais de 300 estudantes da rede municipal de ensino de Pelotas. Este evento marca os 50 anos da Embrapa, os 30 anos da Embrapa Clima Temperado e os 85 anos da Estação Experimental Cascata.

DIA DE CAMPO – Como nos últimos anos, o Dia de Campo contou com quatro estações: Serviços Ambientais, Agrosociobiodiversidade, Sistemas de Produção Biodiversos e Bioinsumos. O tema transversal foi como manter a água no solo e o uso de técnicas poupadoras de água. Os espaços receberam grupos simultâneos, com apresentações de cerca de 45 minutos cada.

PRIMEIRA ESTAÇÃO – A estação dos Serviços Ambientais coordenada pelo pesquisador Adalberto Miúra destacou a importância da Agroecologia e da conservação ambiental. “A estação tem como principal objetivo passar a mensagem que o ambiente natural não é um inimigo da produtividade, e sim, um aliado na conservação do solo e da água, um recurso tão escasso, e que é o tema central do Dia de Campo. Assim, estamos voltando todas nossas apresentações a formas de conservação e reutilização dela”, falou.

SEGUNDA ESTAÇÃO – Na segunda estação, sob a coordenação do pesquisador Gilberto Bevilaqua, o assunto foi a Agrosociobiodiversidade. Nesse ambiente, o visitante pode escutar e aprender técnicas de preservação dos recursos naturais. “A primeira mensagem é da agrobiodiversidade para a construção de agroecossistemas e para a sustentabilidade e a segunda é sobre a água, como usar as experiências que mostramos pra conviver com a falta ou o excesso dela, por isso, sem uma grande biodiversidade não há um sistema sustentável”, disse Gilberto. Também foram apresentados trabalhos com os Guardiões de Sementes e Guardiões Mirins.

TERCEIRA ESTAÇÃO – A temática Sistemas de Produção Biodiversos mostrou aos participantes técnicas de manejo que conservam a água no solo como compostagem laminar, uso de palhada e esterco intercalados, diferentes formas de controle de matocompetição em espécies espontâneas em sistemas de produção de agroflorestas ou de frutíferas – usando desde a capina manual até o uso do papelão, de forma a apresentar como se faz e o quanto reduz a mão de obra. “Com essas técnicas é possível diminuir a temperatura do solo, que pode cair cerca de 10º C, reduzindo a evapotranspiração e a perda de água, o que faz permanecer mais água no solo, evita a irrigação constante, diminui custos e a penosidade do agricultor”, explicou o pesquisador representante da estação tecnológica Ernestino Guarino.

QUARTA ESTAÇÃO – Na estação Bioinsumos, o esforço da equipe foi para mostrar que solo bem cuidado é garantia para a presença de água e de desenvolvimento pleno das culturas. Organizada em quatro subestações, na primeira delas, uma equipe da Emater/RS-Ascar mostrou como preparar diferentes caldas como forma de tratar e enriquecer o solo. A segunda equipe mostrou o potencial dos microrganismos para o crescimento de plantas, dando o exemplo de comportamento nas culturas da soja, milho, trigo e arroz. Nas outras subestações foram mostradas tecnologias para melhorar as condições físicas do solo – sistemas de cobertura do solo, plantas de cobertura, insumos, assim como as características físico-químicas do solo com a apresentação de várias alternativas de uso e como fazer compostagem e húmus líquido para o desenvolvimento principalmente de frutas e hortaliças. “Nossa proposta é mostrar melhores técnicas de retenção da água no solo para consequente desenvolvimento de plantas e microrganismos, pois solos compactados não armazenam água”, explicou o pesquisador Jair Nachtigal, coordenador das equipes desta estação.

CIRANDA AGROECOLÓGICA – Paralela à programação completa do evento Agroecologia 2023, foi realizada a I Ciranda Agroecológica: ciclos de atividade pedagógicas para a Agroecologia, uma iniciativa da Embrapa Clima Temperado, Emater Regional em parceria com professores e estudantes da UFPel, FURG e do IFSUL-CAVG, que recebeu alunos do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental de diferentes escolas da rede pública municipal de Pelotas. O objetivo da Ciranda era oferecer um espaço pedagógico, por meio de brincadeiras, conversas lúdicas, aprendizados e experiências sobre natureza, cultura e alimento. A atividade se destacou pela energia e alegria das crianças que participaram ativamente da proposta.

“A I Ciranda foi um sucesso, atendemos mais de 300 crianças e uma média de 10 escolas ao longo do dia, conseguimos unir diversas instituições e tivemos um ótimo retorno”, concluiu um dos coordenadores da Ciranda, Rui Madruga.

Para o professor da UFPel, Luis Eduardo Suzuki, foram momentos maravilhosos vividos na I Ciranda. “Que bom seria se o brilho, a energia e a alegria das crianças e de todos nós que tivemos o prazer e o privilégio de poder desfrutar deste dia pudesse ser compartilhado com outras pessoas. Que tenhamos tantos outros momentos como este”, disse.

MOSTRA CULTURAL: Esta edição trouxe outra novidade para o evento, que foi a integração da música e das artes, com foco na valorização da natureza e das práticas agroecológicas. Apresentaram suas músicas, as artistas Marina Hassan, Tatiana Pureza e Bruna “Ave Cantadeira”, que envolveram o público com sua alegria e sonoridade, destacando a importância da existência da terra, que oferece o alimento e tantos outros valores para as comunidades rurais. Elas se apresentaram na abertura do evento e posteriormente, do meio-dia às 14h, com o envolvimento das escolas visitantes. O grupo de danças da Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Moreira, de Canguçu (RS), apresentou coreografia da música “Brincadeira de Criança”, com a intenção de ressaltar a pureza, inocência das crianças e valorizar a cultura afro. Foram feitas também rodas de capoeira, com os típicos movimentos de dança e luta, com a integração do público participante do evento. O momento da prática foi conduzido pelo grupo de capoeira Filhos da Roda. Além dessas manifestações, o evento contou com a parceria do Projeto Portinari, com atuação socioeducativa, com o objetivo de resgatar a memória de vida e obra do autor. Na I Ciranda Agroecológica foi feita a exposição Infância e Brincadeiras, e a segunda exposição, ocorreu nas dependências do Centro de Capacitação dos Agricultores Familiares (CECAF), chamada de “Trabalhador Rural”.

FEIRA DA AGROECOLOGIA – A Feira ocorreu em sua segunda edição, se consolidando na programação do Agroecologia 2023. A diferença da Feira neste ano, ficou por conta da diversidade de produtos expostos que reuniu em média 40 expositores de muitos produtos e insumos, como sementes, grãos, alimentos e bebidas em geral.

“É uma oportunidade de venda muito boa pra gente e também para estar junto do nosso pessoal da agricultura familiar, nós ocupamos esse lugar e temos essa importância”, expressou o produtor Fábio Cavalheiro, responsável pela Floricultura Virginia Flores da Cascata.

“A segunda edição da Feira Agroecológica foi um grande sucesso, mostrou-se como o eixo central do evento ‘Agroecologia 2023’, assumindo uma importância maior do que o próprio XVIII Dia de Campo sobre Agroecologia e Produção Orgânica”, citou o pesquisador Luis Fernando Wolff, que estava à frente da coordenação do evento.

LANÇAMENTO DO GUIA DE MUDAS – O evento marcou também o lançamento do Guia para Identificação de Mudas de Espécies Arbustivas e Arbóreas de Espécies Indicadas para Restauração Florestal no RS, anunciado pelo pesquisador organizador da publicação Ernestino Guarino, durante o ato de abertura do evento. A publicação tem como objetivo ajudar na correta identificação de mudas de 67 espécies nativas indicadas para restauração de ecossistemas florestais do Estado gaúcho. O Guia está disponível na versão on-line e, no evento, os participantes puderam realizar o download por meio de QR Codes espalhados pelos trajetos de acessos às estações tecnológicas.

Para Ernestino, o lançamento do Guia é uma conquista importante para o RS. “Rio de Janeiro, São Paulo e outros tantos estados já tinham um guia e nós não tínhamos nada aqui no Rio Grande do Sul de fácil acesso e com informações coerentes com a nossa realidade. Então esse Guia é para o RS e serve de referência para embasar pesquisas e para a Secretaria do Estado do Meio Ambiente (Sema) que conta com esse documento para apoiar políticas públicas de restauração ecológica”, falou.

REUNIÃO DAS OCS – Durante o dia, a Emater/RS-Ascar conduziu a reunião das Organizações de Controle Social (OCS), que agregou integrantes de 35 Organizações, assessores técnicos e extensionistas rurais para uma troca de experiências, formação e construção de uma agenda de trabalho para o ano de 2024. As OCS são responsáveis por fazer a certificação participativa dos empreendimentos da agricultura familiar, elas funcionam como um mecanismo de garantia de qualidade da produção orgânica. Participaram representantes de nove municípios da região Sul. O extensionista rural da Emater Regional, Fernando Horn, coordenou a atividade.

ATO DE ABERTURA – A largada do XVIII Dia de Campo foi feita após a fala das instituições promotoras e parceiros do evento, assim como, autoridades e parlamentares que defendem a agricultura familiar. Antes, porém, o articulador da Feira Agroecológica e coordenador técnico da Estação Experimental Cascata, João Carlos Costa Gomes, prestou uma homenagem a todos os empregados, bolsistas, estagiários e prestadores de serviços que apoiaram na organização do evento, e em especial, fez homenagem por um dos responsáveis pela organização, que faleceu uma semana antes do evento ocorrer, o assistente de pesquisa Geraldo Camejo, através de um banner com mensagem de carinho, um minuto de silêncio e uma conclamação de todos ao nome do colega de trabalho.

O chefe-geral interino Waldyr Stumpf Junior falou no ato de abertura sobre o momento de celebração pela 18ª edição do dia de campo, uma ação que chegou à maturidade com o envolvimento de agricultores e agricultoras que representaram instituições de todo o Estado. “Celebramos um espaço de educação, conhecimento, tecnologias, extensão rural, agricultores organizados nos seus movimentos, buscando uma nova matriz tecnológica para a produção de alimentos. Para que assim, a sociedade deixe de trabalhar tanto nas questões emergenciais de saúde e possa, a partir do alimento, da dieta das pessoas, da nutrição, ter um alimento sadio para que tenhamos uma qualidade de vida melhor”, destacou.

O diretor-executivo de Pesquisa e Inovação da Embrapa, Clenio Nailto Pillon, veio a Pelotas para prestigiar o evento. Segundo ele, a realização deste dia de campo foi um retorno da Ciência e uma forma de manifestar o fortalecimento das soluções tecnológicas para os agricultores familiares. “Um dos exemplos desse fortalecimento está na ampliação das ações parlamentares do deputado Elvino Bohn Gass destinando recursos para pesquisa agropecuária para a Agricultura Familiar, definindo o orçamento da Embrapa, e colaborando para alinhar o compromisso da Empresa com os do Governo Federal, em torná-la pública, cada vez mais soberana e plural”, defendeu. Ele também discorreu em sua fala sobre as quatro transições vividas pelo mundo – transição alimentar, energética, climática e digital – e as implicações da Agroecologia e da Agricultura Familiar com papel importante para contribuir com esses processos.

Participaram da cerimônia de abertura a vice-reitora da UFPel, Ursula Rosa da Silva, o gerente regional da Emater/RS-Ascar, Ronaldo Maciel, o coordenador do Núcleo Pelotas do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa), Roni Bonow, o representante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Adelar Pretto, o representante do Movimento dos Pequenos Agricultores, Frei Sérgio, o diretor da Coopar/Pomerano, Ellemar Wojahn. Prestigiaram o evento o vice-presidente nacional do Sinpaf, Julio Bicca, o coordenador do portfólio de Agroecologia da Embrapa, José Espíndola, a chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, Cristiane Amancio, e suas chefias-adjuntas de Transferência de Tecnologia, Ana Garofalo, e P&D, Claudia Jantalia, além da gerente de formação da Anater, Isabel Silva, que fez uma breve explanação sobre as chamadas públicas abertas. A agenda contou ainda com várias participações de assessores parlamentares dos deputados Alexandre Lindemeyer, Adão Pretto Filho, Zé Nunes e Elvino Bohn Gass e autoridades regionais.

Agroecologia 2023 foi uma promoção da Embrapa Clima Temperado, Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa) e a Emater/Rs-Ascar. Contou com o apoio importante da Cooperfumos, Prefeitura de Pelotas, Bionatur, Arpasul, Cooperativa União, MST, UFPel, Furg, Coopar, EFASul e Sinpaf.

Fonte: Embrapa Clima Temperado

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