De 9 a 11 de outubro, foi realizado o terceiro encontro do projeto “Sistemas Agroflorestais para mitigação do clima e da fome”, que tem o objetivo de construir, de forma conjunta, sistemas produtivos de referência em terras indígenas – especificamente no Território Indígena Araribóia – de 413 mil hectares e cerca de 251 aldeias – com foco na produção de alimentos com qualidade nutricional e na conservação ambiental. O evento foi realizado na aldeia Jenipapo, em Bom Jesus da Selva (MA), com cerca de 90 participantes.
O projeto é coordenado por Marcelo Arcoverde, chefe-geral da Embrapa Florestas. Também participam da coordenação técnica Carlos Eugênio Vitoriano Lopes e Vera Maria Gouveia, pela Embrapa Cocais, e Silvio Brienza Júnior e Emiliano Santarosa, pela Embrapa Florestas. As ações vão subsidiar o Plano de Gestão Territorial – PGTA de terras indígenas no Maranhão, que está sendo planejado de forma participativa com os indígenas e parceiros diversos.
Para prospectar demandas, identificar os principais desafios de produção no território indígena e construir conjuntamente as ações, foram realizados encontros periódicos em que são também foram conhecidas as experiências locais em sistemas agropecuários e conservação florestal, considerando o conhecimento indígena tradicional para implantação de sistemas de referência em produção de alimentos sustentáveis. Também foram consideradas as características de cada comunidade em relação à produção de alimentos, verificando as principais culturas agrícolas potenciais também para geração de renda. A distribuição da produção no território está sendo escolhida de acordo com a demanda das comunidades indígenas.
As principais demandas das comunidades indígenas são por sistemas agroflorestais envolvendo espécies frutíferas (açaí, cupuaçu, banana) com adaptação climática e crescimento na região, devido ao potencial na alimentação e comercialização. Também sistemas com plantas de lavoura, como milho, arroz, feijão e mandioca, sendo o cultivo de mandioca o principal destaque. Além da apicultura e piscicultura como atividades complementares. Questões ambientais em relação à proteção do território e à importância da conservação de matas ciliares e nascentes e ainda reflorestamento de áreas degradadas também foram temas presentes, assim como a proteção da floresta e a valorização da tradição e da cultura indígena.
“O objetivo do terceiro encontro foi referendar 11 sistemas de produção de referência possíveis para o Território Indígena Araribóia. Buscamos dialogar, mostrar alternativas e indicar sistemas sustentáveis mais apropriados para amenizar as mudanças climáticas e a fome, e apresentar tecnologias alternativas contra o uso do fogo”, resume Vitoriano.
Para Marcelo Arcoverde, coordenador do projeto, entender o processo de produção indígena nesse território com a participação deles é o que vai garantir resultados promissores. “No primeiro momento da nossa chegada na comunidade indígena, entendemos como eles produzem, suas práticas culturais, colheita, consumo familiar, comercialização etc, de acordo com a descrição feita por eles, e pudemos identificar gargalos e pontos de melhoria. Temos muitas tecnologias e formas de manejo que podem contribuir para minimizar ou eliminar a fome da comunidade com a possibilidade de manter as características ambientais. Para o futuro, a partir dos sistemas melhorados para as condições locais das comunidades indígenas, vamos pôr em prática a produção de alimentos por meio de Unidades e medir os efeitos ao longo do tempo”.
Fabiana Guajajara, do Território Arariboia, diretora-executiva do Instituto Tukàn vê como fundamental a parceria realizada durante os três momentos de diagnóstico do projeto. “A partir daqui, vamos implementar políticas públicas voltadas à segurança alimentar. Estamos felizes e gratos em participar e entendemos que cada instituição teve e tem um papel fundamental no processo”.
José Marques, presidente da União dos Agricultores Indígenas do Maranhão – UAIMA, considerou muito bom e produtivo esse planejamento da agricultura familiar do território Arariboia. “Juntos, vamos fazer uma ótima articulação de políticas voltadas para o nosso território”.
O projeto tem a iniciativa da Embrapa, Ministério dos Povos Indígenas – MPI, Instituto Tukàn, Comissão de Cacique e Liderança do Território Aribóia – COCALITIA, Funai e Fundo Vale. Entre os demais parceiros, Governo do Maranhão, Secretaria de Estado da Agricultura Familiar – SAF, Secretaria de Diretos Humanos e Participação Popular – SEDIHPOP, Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural – Agerp, Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão – Coapima, Federação dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Maranhão – FAFERMA, União dos Agricultores Indígenas do Estado do Maranhão – UAIMA, Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio e Suzano, além das prefeituras municipais maranhenses de Amarante, Buriticupu, Bom jesus da selva, Grajaú, Santa luzia e Arame.
São tecnologias desenvolvidas na Embrapa no Maranhão que otimizam o uso da terra com produção diversificada de alimentos numa mesma área. Integram árvores, culturas agrícolas, como milho, macaxeira e banana nos primeiros anos, e cupuaçu, açaí, acerola e taperebá nos anos seguintes. Também compõem o sistema plantas forrageiras e, às vezes, animais, de maneira simultânea ou sequencial. Os impactos sociais, econômicos e ambientais da tecnologia são bastante positivos.
No sistema agroflorestal, busca-se otimizar a ciclagem de nutrientes onde o solo sempre está coberto pela vegetação e com muitos tipos de plantas juntas, umas ajudando as outras. As plantas do sistema produzem matéria orgânica para alimentar os animais e adubar o solo, o que reduz a utilização de insumos externo, diminuindo os custos de produção. As árvores melhoram a produtividade do sistema, pois ajudam na recuperação do solo, microclima e balanço hídrico, e ainda absorvem carbono da atmosfera. A tecnologia reduz a pressão pela abertura de novas áreas de terras para o cultivo agrícola.
A combinação de diferentes cultivos num sistema agroflorestal o torna mais vigoroso, desde que elaborado e manejado corretamente, e contribui para uma alimentação saudável dos agricultores familiares e consumidores, além do aumento da renda com a comercialização dos produtos.
Foi fundado em 2019 para atuar em defesa da Amazônia e da autonomia dos povos indígenas, buscando autonomia na educação e soberania alimentar, por meio do Centro de Saberes Tukàn, que atua na educação bilíngue em Tupi e Português de crianças, jovens e adultos e será ampliado para se tornar a primeira universidade Indígena do Brasil. A instituição promove a educação, saúde, cultura, produção agrícola e preservação ambiental, com foco na integração e autonomia dos povos indígenas. Está localizado no TI Arariboia, localizado no sul do Maranhão e engloba os municípios de Arame, Buriticupu, Amarante do Maranhão, Bom Jesus das Selvas e Santa Luzia.
Fonte: Embrapa Cocais
Comentários