Proposta de sistemas integrados para a produção de cacau no DF e Entorno é apresentada em encontro na AgroBrasília

Pesquisador Tadeu Graciolli destacou o potencial do cacau em sistemas integrados no Cerrado

O potencial da cacauicultura na região do Distrito Federal e Entorno com a adoção de sistemas integrados foi apresentado pelo pesquisador Tadeu Graciolli, da Embrapa Cerrados (DF) durante o I Encontro do Cacau da Rota da Fruticultura RIDE/DF, realizado no dia 20 de maio no estande da Embrapa na AgroBrasília 2025. O evento contou com a participação de pesquisadores e técnicos da Empresa, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF e da Emater-DF, além de produtores.

O pesquisador apresentou dados da Emater-DF que mostram que a fruticultura vem avançando no DF: a área plantada cresceu 34,45% somente entre 2022 e 2023, passando de 1618 ha para 2177 ha. As principais fruteiras cultivadas são abacate, goiaba, banana e limão, todas sob irrigação.

Graciolli sinalizou a perspectiva da realização de pesquisas com cacau em áreas não tradicionais como o DF e Entorno, diante da chegada da cacauicultura ao Cerrado, destacadamente no Oeste da Bahia. Ele apresentou uma proposta de projeto de pesquisa sobre a produção integrada de cacau e baru, baseada nos resultados positivos já obtidos em experimentos de café consorciado com a espécie lenhosa castanheira nativa do Bioma, conduzidos na Embrapa Cerrados.

“Resultados de pesquisas têm mostrado que o cacau é perfeitamente possível (no Cerrado), contanto que se façam ajustes no sistema de produção, que se ‘leia’ a planta e que se faça a seleção de materiais mais adaptados. É olhar para o café e enxergar nele o cacau”, disse.

O cacau é nativo da região amazônica até o México. É uma espécie também arbórea e perene, tolerante à sombra, Foi introduzido na Bahia em 1746 e é tradicionalmente cultivado como planta de sub-bosque, no sistema de “cabruca”, recebendo suprimento moderado de luz. Com a chegada da vassoura-de-bruxa em 1989, novas estratégias e ações foram adotadas, como o melhoramento genético em busca de resistência, processos de clonagem de materiais resistentes, além de métodos de controle químico, cultural e biológico de pragas e doenças.

A produção mundial é proveniente principalmente da Costa do Marfim (2 milhões t) e de Gana (580 mil t), que juntas produzem 60% do total; além de Camarões, Nigéria, Equador e do Brasil (220 mil t na safra 2023/24). Os principais estados brasileiros produtores são Pará, Bahia, Espírito Santo, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso. “A introdução da cultura em outros agroecossistemas, como o cacau a pleno sol e com irrigação no Cerrado, descortina uma nova era de produção”, disse o pesquisador. Enquanto a produtividade média no País é de 491 kg/ha, o potencial já alcançado pelo cacau a pleno solo e irrigado é de 3000 kg/ha.

A quebra de safra nos países produtores africanos devido a fatores climáticos e sanitários ocasionou a disparada do preço da tonelada do cacau para mais de US$ 8 mil em março deste ano na bolsa de Londres, com picos de até US$ 10.532/t. Na Bahia, a arroba do cacau, em maio, chegou a ser comercializada a R$ 820, enquanto o preço normalmente praticado fica em torno de R$ 250.

Em 2023, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) do Ministério da Agricultura e Pecuária e a iniciativa CocoaAction Brasil lançaram o Plano Inova Cacau 2030, visando acelerar o desenvolvimento do setor produtivo e posicionar o Brasil como origem de cacau sustentável para o mundo, aproveitando a infraestrutura agronômica já instalada. Entre as metas do plano, estão, além do aumento da produção anual para mais de 400 mil t, a promoção do reflorestamento por meio de modelos sustentáveis como o sistema agroflorestal, que é o que se conecta com a proposta da Embrapa Cerrados.

Para a elaboração do projeto proposto, os pesquisadores buscaram conhecimentos em propriedades no Oeste baiano, onde a produção de cacau a pleno sol está tecnicamente mais evoluída, e na Unidade Mista de Pesquisa e Inovação (UMIPI Cacau) formada por pesquisadores da Ceplac e da Embrapa.

O projeto trata da otimização de sistemas de produção e a recomendação de variedades de cacau superiores para o Bioma Cerrado, que abrange uma das áreas não tradicionais, porém com potencial para a cacauicultura – DF e Goiás.

Dos sete principais mitos ou paradigmas que inibiam a expansão do cacaueiro para regiões não tradicionais, seis já foram quebrados: baixa umidade relativa do ar prejudicaria a produtividade; ausência ou população reduzida de polinizadores; necessidade de sombra para produzir; aumento de pragas no cultivo a pleno sol; os elevados custos da irrigação e do manejo comprometeriam a rentabilidade; e o cacau produzido a pleno sol seria de baixa qualidade.

O último paradigma a ser quebrado é o de que o plantio a pleno sol terá menor longevidade. “É uma tecnologia nova e só o tempo vai mostrar. Mas mesmo que tenha menor longevidade, se ela entregar o que tem sido observado de produtividade, já terá se pagado”, argumentou Graciolli, acrescentando que a dificuldade de estabelecimento de novos cacauais sem o sombreamento nas fases iniciais é superada com ajustes no sistema de produção, sendo a irrigação imprescindível no cultivo a pleno sol em regiões com restrições hídricas, dada a grande exigência de água da planta. Já na fase adulta, a planta demanda maior frequência de adubação e maior aporte de nutrientes para produzir.

Aprendizados com o consórcio de café com o baru

O pesquisador explicou que o baruzeiro, além da possibilidade de uso na recomposição de áreas degradadas de Reserva Legal ou Áreas de Preservação Permanente, é uma planta com grande potencial para a composição de sistemas em arranjo com o café e o cacau no Cerrado. Trata-se de uma espécie heliófila (precisa de luz para se desenvolver), perene e arbórea.

Apesar do elevado valor comercial da castanha e da crescente demanda internacional devido às características nutricionais, o Brasil ainda não tem capacidade produtiva e constância de produção de baru para atender aos mercados. Com raras exceções, ele é obtido a partir do extrativismo em áreas naturais, ainda necessitando de tecnologias para domesticação, aprimoramentos fitotécnicos, seleção de variedades e plantios comerciais para que a produção se intensifique.

Com produção já consagrada no Cerrado, o café, assim como o cacau, era originalmente uma planta de sub-bosque cultivada a meia luz, mas, com a seleção e adaptação de plantas, passou a ser também cultivado a pleno sol. A pesquisa tem buscado materiais mais produtivos, resistentes a estresses bióticos, como pragas e doenças, e abióticos, como questões climáticas, que produzam grãos de qualidade, além do estabelecimento de sistemas de produção mais resilientes e agroecológicos. O DF conta com uma área de 433 ha com cafeicultura, produzindo cafés de alta qualidade, inclusive premiados.

Entre janeiro e fevereiro de 2022, foi instalada nos campos experimentais da Embrapa Cerrados uma área de cultivo consorciado de baru com café em dois sistemas de produção irrigados e distintos. Estão sendo testadas três variedades de café e 10 progênies de baru provenientes de matrizes selecionadas durante 20 anos.

Após os plantios das mudas do café e do baru, estão sendo realizados cultivos anuais e bianuais nas entrelinhas do café e do baru. Em três anos, foram obtidas uma safra de feijão, duas safras de frutos e de mudas de abacaxi, uma safra de mandioca (em produção) e duas safras de café, sendo a primeira safra de café obtida após dois anos e meio após o plantio, variando entre 25 a 35 sc/ha de produtividade, dependendo da variedade e do sistema de produção testado. A safra de café 2024/24 está atualmente em fase de colheita, aos três anos e meio após o plantio.

Graciolli destacou, ainda, o desempenho do baru nos sistemas. “As mudas de 50 cm de seis clones ultrapassaram seis metros de altura e praticamente todos os 10 clones passaram de quatro metros. No ano passado, houve o florescimento em algumas, com dois anos de 10 meses no campo. Esperamos que este ano mais plantas entrem na fase reprodutiva, mostrando que o baru também responde à melhoria do ambiente, com água e nutrição”, afirmou, lembrando que o baru não foi diretamente adubado, mas está absorvendo nutrientes do residual de adubação do café.  

“A partir desse aprendizado nesse sistema de café com baru, produzimos esse projeto para se estudar algo similar para cacau com baru”, finalizou, informando que a proposta está pronta e em busca de parceiros e de fontes de financiamento.

Nova opção de cultivo para a agricultura do Cerrado

O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, acredita que o cacau é uma das culturas que podem compor o leque de opções do sistema produtivo agrícola do Cerrado, região de escape da vassoura-de-bruxa, doença fúngica que compromete a cacauicultura. “É um trabalho que recém começa, temos visto iniciativas de muito sucesso com cacau irrigado no Cerrado, sobretudo no Oeste da Bahia. Tal como aconteceu com o café irrigado, esse cacau tem uma qualidade muito boa”, afirmou.

Ele acrescentou que o mercado mundial está aberto à cultura. “O cacau é um alimento procurado no mundo todo e é um produto tropical. Os maiores consumidores são países de clima temperado e não podem produzi-lo. Temos a oportunidade de produzir, aqui no ambiente tropical, um cacau de qualidade. Podemos certificar, adotar boas práticas, começar fazendo o certo, com tecnologia”.

“O cacau será a nova commodity e voltará aos tempos de ouro de outrora no País”, apostou Leonardo Frias, representante da Rota da Fruticultura pela Codevasf, ao explicar que a Rota, além de fomentar o cultivo do açaí e do mirtilo, pretende prospectar a cacauicultura no Cerrado. “Pesquisas mostram que o cacau pode ser produzido a pleno sol e isso é uma inovação. No restante do mundo, ele está sendo eliminado por problemas sanitários, e o Brasil voltará a ser a bola da vez”, projetou.

Também foram palestrantes do I Encontro do Cacau da Rota da Fruticultura RIDE/DF Ricardo Pereira, coordenador geral da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), vinculada à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que mostrou resultados da experiência paulista na organização cadeia produtiva do cacau, no âmbito do Programa Cacau SP; além dos produtores de cacau e chocolate José Gonçalves (Cacau Candango) e Almir Silva (Cordel Chocolateria), que falaram sobre a experiência com a cultura no Distrito Federal.

Fonte: Embrapa Cerrados

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